sexta-feira, 23 de abril de 2010

VALE A PENA LER E OUVIR SEMPRE!


Foi uma noite de quinta-feira muito agradável na FNAC do Barra Shopping. Oportunidade ideal para rever amigos e colegas, ouvir ótimas histórias de Aguinaldo Silva e conhecer os autores do excelente “A seguir cenas do próximo capítulo”, André Bernardo e Cíntia Lopes. Para promover o lançamento do livro, Aguinaldo Silva deu o ar de sua graça e respondeu perguntas feitas pela dupla de autores e também do público presente.

AGUINALDO SILVA: “Escrever novela demanda 10% de talento e 90% de disciplina”.

Aguinaldo Silva posa com minha amiga, a simpática Ivy.


Sempre simpático, agradável e rápido no gatilho, Aguinaldo relembrou histórias de suas antigas novelas, comentou sobre o processo de criação e produção das telenovelas e falou sobre o futuro do gênero pelos próximos anos. Entre outros comentários, Aguinaldo confessou que ter escrito “Tieta” foi sua grande alegria como autor, já que foi graças à novela que consolidou seu talento e vocação para tramas regionalistas. O autor também destacou seu pioneirismo ao ambientar uma novela na Baixada Fluminense (“Senhora do Destino”) e ao criar uma das primeiras mocinhas não-virgens das novelas, a Linda Inês (Giulia Gam) de “Fera Ferida”, assunto que, segundo ele, gerou uma discussão de três horas com os co-autores. Sobre o trabalho de autoria, Aguinaldo opinou que um autor de novelas precisa ter 10% de talento e 90% de disciplina, já que são meses de sacrifício e de dedicação integral ao trabalho. Para ele, os personagens são as únicas pessoas reais que fazem parte de sua vida durante a novela. Como método de trabalho, o autor confessou que utiliza um caderno de chamadas como se fosse uma classe escolar com todos os personagens em ordem alfabética. Isso garante que nenhum deles fique ausente por mais de três capítulos.

Também declarou ser imprescindível a interferência do público no trabalho do novelista, pois enquanto a novela vai sendo escrita, o autor pode conferir a reação do espectador, que praticamente escreve a novela com ele e assim, mudar o que não está dando certo e investir no que está fazendo sucesso: uma obra em progresso, nas próprias palavras de Aguinaldo.

E com relação ao futuro da telenovela? Mesmo sem saber de que forma isso se dará, Aguinaldo deixou um recado e uma ótima notícia àqueles que desejam ingressar no mercado: que não desanimem, pois as novelas ainda continuarão a existir por muito tempo: e que sua nova Master Class, que tem como objetivo formar novos roteiristas, começa na próxima segunda, mas no ano que vem haverá novo processo seletivo. Leia mais sobre a primeira Master Class em: http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/02/marido-de-aluguel-vitoria-de-aguinaldo.html

O LIVRO

 Para quem ainda não conferiu, é leitura obrigatória. Dez dos principais autores de novelas do país revelam segredos, métodos de trabalho e relembram histórias. André e Cíntia souberam, de forma natural e descontraída, extrair narrativas que revelam o estilo e a personalidade de cada autor: a busca pela ousadia de Lauro César Muniz; a capacidade de Gilberto Braga de parar o Brasil em torno de suas tramas; o talento para comédia e tramas policiais de Sílvio de Abreu; o regionalismo e as heroínas valentes de Aguinaldo Silva; as tramas de Glória Perez que unem folhetim e modernidade; o talento de cronista do cotidiano de Manoel Carlos; as epopéias rurais de Benedito Ruy Barbosa; o humor inteligente e ágil de Carlos Lombardi; o humor popular de Walcyr carrasco; e a capacidade de criar tramas simples e envolventes de Walther Negrão.


E talvez pelo fato do livro não ter nenhum vínculo institucional, os autores se sentiram à vontade em revelar histórias de bastidores, incluindo inimizades e parcerias artísticas que não deram certo, relações conturbadas entre os autores com direção ou elenco, entre outros bas-fonds... Aguinaldo, por exemplo, revela detalhes de sua briga com Dias Gomes na época de “Roque Santeiro” e a reconciliação anos depois. Isso só pra dar um gostinho. Quem quiser saber mais, que adquira o livro. E como se não bastasse, contém o roteiro de cenas antológicas que marcaram a história das telenovelas, como o famoso café da manhã de Otávio e Charlô (Paulo Autran e Fernanda Montenegro) que terminou em pastelão em “Guerra dos Sexos”, um dos muitos embates entre Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires) na emblemática “Vale Tudo”, o reencontro emocionante de quarenta anos depois de João Maciel (Paulo Gracindo) e Carolina (Yara Cortes) em “O casarão”, entre outras.

Para os aficcionados do gênero, leitura obrigatória. Para o público em geral, instigante e revelador. A teledramaturgia agradece e saúda publicações do gênero que, felizmente, começam a aparecer com mais frequência nas prateleiras.

Este que vos fala e os autores André Bernardo e Cíntia Lopes.


Momento "Onde está Wally": tem melão nas paradas!

domingo, 18 de abril de 2010

Entrevista: VIVIAN DE OLIVEIRA - Simpatia e competência




Na série de entrevistas do Melão, depois de Alcides Nogueira, outra amiga querida. Muito jovem, mas já com experiência de veterano, a talentosa Vivian de Oliveira nos conta toda a sua trajetória desde as crônicas que escrevia em Mato Grosso do Sul para o jornal de seu pai até seu trabalho como autora-titular em “A história de Ester”. Apesar de ter trabalhado em outras emissoras, foi na Record que consolidou sua carreira de roteirista, ainda no final dos anos 90 ao assinar a minissérie “Por amor e ódio” e fazer parte da equipe das novelas “Tiro e Queda” e “Estrela de Fogo”. Entre outros assuntos, Vivian também fala um pouco dos autores televisivos que admira e da falta que sente de cursos de roteiro mais instigantes no Brasil. Sempre solícita e generosa, Vivian respondeu às perguntas feitas por este blog e todas as enviadas pelos leitores.

Confiram!


Perguntas do melão:

Inevitável começar com uma pergunta: como tudo começou? Quando você descobriu que tinha jeito pra escrita e que caminhos te levaram a trabalhar com teledramaturgia?

Vivian - Comecei a escrever muito cedo, incentivada pelos meus pais, que são jornalistas. Aos quinze anos, já escrevia crônicas para o jornal do meu pai, em Mato Grosso do Sul. Sempre ia bem nas redações da escola. Era algo que foi acontecendo naturalmente. Entrei para a faculdade de Comunicação Social, na FIAM, São Paulo, para fazer jornalismo. No segundo ano de faculdade, consegui um estágio como redatora do programa “Sinal de Vida”, apresentado por Ronnie Von, na Record, meio que por acaso. Não pensava em escrever para televisão, mas logo me apaixonei. Depois fui convidada para escrever outros programas de linha de show, até que comecei a trabalhar numa produtora de vídeos. Escrevia vídeos de treinamento, de lançamento de produtos, documentários, entre outros tantos. Na época, os orçamentos para esta área eram excelentes. As empresas investiam em vídeos. Foi quando eu comecei a escrever dramaturgia para explicar conteúdos técnicos e abordar temas que seriam maçantes de forma leve e bem humorada. Gostei muito da experiência de criar personagens, tramas, reviravoltas, e descobri que era isso o que queria fazer. Mudei de jornalismo para publicidade no meio da faculdade, porque me identifiquei muito mais com a área de criação do que com o factual das notícias. Depois de formada fui para os Estados Unidos fazer um curso de especialização em roteiro para cinema e TV, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). Durante um ano de curso, aprendi mais do que quatro anos de faculdade. Fiquei completamente fascinada com a profissão do roteirista e coloquei na minha cabeça que seria uma contadora de histórias. Meu roteiro de graduação deste curso ficou entre os finalistas de um concurso interno da faculdade e vi que levava jeito para a coisa. Voltei ao Brasil no momento em que a Record estava montando seu núcleo de teledramaturgia, na época sob direção de Atílio Riccó. Mostrei meus textos e fui chamada para ser colaboradora do Ronaldo Ciambroni. Um tempo depois, a Record me pediu uma sinopse para me testar. Eu escrevi a sinopse de um romance policial, que foi muito bem aceita. Era uma história que tinha o tráfico de drogas como pano de fundo. Passei meses indo ao Denarc, em São Paulo, conversando com policiais que eram infiltrados em quadrilhas, conhecendo a rotina de uma delegacia especializada em entorpecentes. Adorava essa parte da pesquisa. Não tinha esperança de que minha sinopse sairia do papel tão cedo, mas houve um problema com uma autora que iria revezar com o Ciambroni e a Record precisava de uma nova sinopse com urgência. A produção já estava montada, com data de estreia e tudo mais. Atílio se lembrou da minha sinopse e me pediu para escrever um capítulo. Escrevi e foi aprovado. Eles me pediram mais dois capítulos. Passei um final de semana em claro escrevendo com um prazo apertadíssimo. Os novos capítulos também foram aprovados e eles me chamaram para escrever a minissérie. Foi uma loucura! Parecia um sonho. Durante um mês não saí de casa. Escrevia dia e noite para dar conta e não tinha colaboradores, nada. Tive que aprender tudo na raça. A Record correu um risco tremendo de apostar numa novata, mas eu acreditava muito que poderia dar certo. E deu. A minissérie intitulada “Por Amor e Ódio” recebeu uma boa crítica na época. Infelizmente, o núcleo de teledramaturgia da Record fechou pouco tempo depois e eu voltei a escrever vídeos e redação de programas para linha de show. Trabalhei em outras emissoras e voltei para a Record anos depois para escrever “Estrela de Fogo” como colaboradora do Yves Dumont. Na verdade, foi uma produção terceirizada pela JPO. A partir daí, vieram outras oportunidades e, aos poucos, fui construindo minha carreira. É uma área muito difícil, cheia de altos e baixos, com poucas oportunidades. Escrevo profissionalmente há 18 anos e só agora surgiu uma grande chance. Mas tudo acontece no tempo certo. Basta acreditar no sonho, ter muita persistência e ir à luta.

Você tem o hábito de assistir a novelas? Quem são seus grandes mestres e o que te inspira em cada um deles?

Vivian - Já fui de assistir mais. Hoje ando tão sem tempo, que não tenho assistido muita coisa. Mesmo assim, sempre dou uma conferida para ver o que está no ar. Tenho vários autores favoritos. Gosto muito do estilo sofisticado e elegante do Gilberto Braga, admiro o humor do Walcyr Carrasco, as personagens inesquecíveis do Aguinaldo Silva (adoro “Senhora do Destino”), as sagas de famílias do Benedito Ruy Barbosa, a mão firme e o texto inteligente do Marcílio Moraes, enfim, tento aprender um pouquinho com cada um. E, claro, o Tiago Santiago foi um grande mestre para mim. Ele apostou no meu talento e me ensinou muito. Gosto da ação que ele coloca em seus textos. Aprendi com o Tiago a ter uma mente de produtor, o que é fundamental para quem escreve como titular. Não basta simplesmente ser criativo e escrever bem para ser autor de novela. Tem que pensar na logística dos cenários, levar em conta os custos de produção, agüentar a pressão, que é tremenda, e por aí vai.

Antes de se tornar autora-titular, você trilhou uma vasta carreira como colaboradora. Qual é o maior desafio dessa função?

Vivian - O maior desafio de um colaborador, na minha opinião, é se adaptar ao estilo do autor. Entender o que ele gosta, como ele escreve, como ele idealiza cada cena, o que ele deseja transmitir. Quando fui colaboradora observava muito o texto do autor, ficava atenta ao que ele mudava nas minhas cenas e ia adaptando o meu estilo ao dele. O bom colaborador é aquele que não se anula, que mantém a sua identidade de certa forma, mas que consegue escrever o mais próximo possível de como o autor titular escreve.

Tive o prazer de conhecer você como auxiliar de Marcílio Moraes na oficina de Telenovela que ele ministrou na Estação das Letras, em 2008. Na ocasião, além de ser revelar uma pessoa doce e simpática, você também se mostrou uma ótima professora. Pensa em ministrar cursos e oficinas? Qual a importância desses cursos na formação do jovem roteirista?

Vivian - Não tenho planos de ministrar cursos. Pelo menos não tão cedo. Acho que preciso de mais experiência para isso. Já dei algumas palestras, o que eu prefiro. Acredito que é fundamental que o jovem roteirista participe de cursos deste tipo para aprender o be a bá, mas escrever mesmo só se aprende com a prática. Sinto falta de cursos de roteiros mais avançados aqui no Brasil. No decorrer da minha carreira, sempre fui sedenta por cursos mais instigantes e não conseguia encontrar. Pelo menos os que eu participei só focavam no roteirista iniciante. Com o tempo fui me desinteressando. O curso que fiz no exterior valeu muito a pena. Li muitos livros também.

Você possui sinopses de histórias próprias? Sente-se preparada para encabeçar uma equipe de novela?

Vivian - Tenho sim, mas a ideia de encabeçar uma novela dá um pouco de frio na barriga. É um trabalho alucinante. Não dá tempo para mais nada. Foi uma correria com uma minissérie de dez capítulos. Uma novela, então, vai ser um ritmo insano. Mas gosto de um bom desafio. Se me chamarem, eu topo, com certeza.

Perguntas dos leitores:

Como era o esquema de trabalho entre você, Luiz Carlos Fusco e o supervisor Yves Dumont em “Tiro e Queda”, novela exibida pela Rede Record em 1999/2000? Vocês aproveitaram muito do original radiofônico de Benjamin Wallace? Gostou de fazer a novela? (Fábio Costa – SP)

Cena da novela "Tiro e queda" (Record / 1999)

Vivian - Fusco era um doce de pessoa. Muito inteligente e sarcástico. O Yves nos dava plena autonomia. Ele confiava que poderíamos fazer um bom trabalho. Basicamente, ele nos dava algumas diretrizes e eu e o Fusco escrevíamos os capítulos alternadamente. O Fusco escrevia um capítulo inteiro, de madrugada, e pela manhã, me passava o capítulo pronto para eu escrever o seguinte. Também escrevia o capítulo inteiro, durante o dia, e devolvia para ele. Não existia escaleta. O Fusco e eu trocávamos ideias por telefone, discutíamos algumas cenas e os detalhes que precisavam aparecer no capítulo. Ele me dava total liberdade para criar. O Yves não intervinha no método de trabalho do Fusco, que era completamente diferente do dele. Yves Dumont já gosta de escrever com escaletas, de forma mais organizada. Ele nos pedia para colocar mais romance aqui, mais ação ali, mas nos deixava livres. Aproveitamos alguma coisa do original, mas não muito. Foi uma delícia escrever a novela, mas a realização foi frustrante. O Fusco criou uma novela que era para ser de humor, irônica, mas foi gravada como se fosse um drama. Aí não funcionou, infelizmente.

Você está na Record desde antes dessa busca da emissora por uma melhor colocação no ibope (é difícil dizer que buscam a liderança, porque a forma como eles trabalham, contraria tal meta). Escreveu inclusive algumas minisséries, como Por Amor e Ódio. Como era o trabalho na Record de antes, com relação a dramaturgia, e como é a Record de agora, com o RecNov e todos os outros investimentos feitos nesse setor. Isso estimula o autor a se empenhar mais? (Duh Secco / Mogi Mirim /SP)

Vivian - A Record atualmente tem uma grande estrutura e investe pesado para criar um núcleo cada vez mais forte. Eu acredito muito na empresa, principalmente, porque acompanhei de perto as outras tentativas de montar um núcleo de teledramaturgia. No começo, na época de “Por Amor e Ódio”, era muito precário. A produção tinha poucos recursos. O resultado deixava muito a desejar. Atualmente, a história é outra. A Record não mede esforços para oferecer um produto de alta qualidade. Com certeza, ver o Recnov crescendo, investindo em profissionais e em tecnologias, construindo estúdios de última geração, criando uma cidade cenográfica e mantendo a promessa de abrir diversas frentes de trabalho é um incentivo e tanto.

Uma pergunta simples, mas que se torna inevitável diante da linha de adaptações que a autora vem realizando: qual a sua fé, a sua crença ou, sendo mais direto, a sua religião? Como ela, de alguma forma, influiu no processo de adaptação de “A História de Ester”? (Vicente)

Vivian - Eu não gosto de religião, mas sou apaixonada por Jesus. Seus ensinamentos de amor, tolerância, humildade e sabedoria são exemplos para todos nós. Freqüento a igreja Batista, mas sou contra a religiosidade que impõe regras e leis. Tenho muita fé em Deus e creio que é Ele que ilumina e guia todos os meus passos. Muitas vezes escrevendo A História de Ester me emocionei com a fé de Hadassa e eu mesma precisei de muita fé e depender somente de Deus para me dar forças. Não foi nada fácil escrever uma minissérie com um filhinho recém nascido. Foi uma luta tremenda e só consegui seguir em frente porque sabia que Deus não ia me desamparar, assim como não desamparou Ester. Mas independente de ser bíblica, A História de Ester é uma trama forte com excelentes elementos dramatúrgicos. É uma grande história que vale a pena ser contada.

Vivian, na ocasião, grávida do filho Benjamin.

Como foi o processo de criação e inserção de personagens fictícios num contexto histórico. Foram personagens que existiram em outros contextos e foram transferidos para a trama histórica? E até que ponto, numa trama histórica, o autor pode se desviar da História? (Glória Pontes / RJ)

A atriz Gabriela Durlo na pele da protagonista Ester


Vivian - Para criar os personagens e tramas paralelas da minissérie, eu usei como ponto de partida a própria história de Ester. Criei uma melhor amiga para ela, que é a Ana. Imaginei que ela teria rivais no harém, que é a Tafnes, dei vida para os eunucos do palácio, criei um rapaz judeu que também é apaixonado por Ester, e assim por diante. A Bíblia, por exemplo, diz que Hamã, o grande vilão que odeia os judeus, tem dez filhos. Os nomes desses filhos foram apenas citados. Eu escolhi dois dos nomes mais sonoros, Aridai e Dalfom, e desenvolvi uma história para cada um. Aridai, que é amalequita, filho de Hamã, se apaixona por Ana, judia, inimiga de seu povo. Dalfom é mau caráter e amante de Tafnes. A história bíblica também fala que os eunucos Bigtã e Teres tramaram para matar o rei, mas não falam o que eles fizeram. Eu peguei essa deixa e criei um complô armado por Hamã. Hadassa, que depois vira Ester, é órfã. Só isso é mencionado na Bíblia. Eu peguei essa informação e criei os pais de Hadassa e imaginei como eles devem ter sido mortos. De qualquer forma, em nenhum momento, eu mudei a trama principal de Ester. Tudo o que está na Bíblia também aparece na minissérie. Fui muito fiel neste ponto, apesar de ter usado de licença poética para criar situações e personagens novos.

A Record já tem na fila para produção três minisséries bíblicas. Você não acredita que o investimento nesse filão possa cansar o público? (Duh Secco – Mogi Mirim / SP)

Vivian- Não da forma como a Record vai realizar. As minisséries não serão seguidas. Haverá um intervalo de exibição entre uma e outra.

Você faria uma minissérie sobre Adão e Eva? (Rodrigo Ferraz – SP)

Vivian - E por que não? O que me interessa são as boas histórias, independente se são bíblicas ou não.

Que tipo de limites você impõe a si mesma ao adaptar um texto bíblico que, obviamente, se esgotaria em pouquíssimos capítulos, para fazer alterações, criar tramas, personagens, etc, que não estejam no texto original? Afinal, não estamos falando de um romance qualquer, mas da Bíblia Sagrada, e todas as implicações que isso pode gerar para com os mais puristas... (Vicente)

Vivian - O único limite que eu considerei foi o de criar personagens e tramas que não comprometessem o texto original. Fui bastante fiel à história da judia Ester. Realmente não teria condições de escrever dez capítulos em cima apenas da história bíblica. Tudo o que foi criado era para sustentar a trama principal.

A Record divulgou que seu próximo trabalho será uma adaptação da “História do Rei Davi”. Confesso a você que, ao mesmo tempo em que fiquei feliz, foi inevitável sentir uma pontinha de ciúmes, já que Davi é o meu personagem preferido do Velho Testamento. Mas não me refiro propriamente ao Davi feito Rei de Israel. Mas sim ao jovem Davi, o pastor de ovelhas ungido como futuro Rei pelo Profeta Samuel, a famosa batalha do menino ruivo e franzino contra o gigante Golias e o início de sua trajetória, quando era ainda um adolescente de aproximadamente quinze anos e foi levado pelo Rei Saul, impressionado com sua coragem durante a batalha, para viver no palácio real. No Primeiro livro de Samuel, onde essa história nos é contada, pouco se detalha do processo de adaptação do jovem camponês acostumado a cuidar das ovelhas de seu pai aos hábitos do palácio, das saudades de casa, dos primeiros passos de Davi nas artes da Guerra quando, acredito eu, tenha sido pacientemente ensinado por seu novo e melhor amigo Jonatas, e ainda do amor platônico que Mical, filha do Rei Saul sentia pelo jovem Davi, aquele garoto que passava a circular pelo mesmo palácio que ela, a quem amava às escondidas, mesmo sendo ele um prometido por seu pai para esposar sua irmã, como prêmio por derrotar Golias... Fatos apenas levemente citados ou deduzidos quando lemos na Bíblia, mas que, acredito eu, renderiam histórias saborosas, principalmente se pensarmos que falar do futuro Monarca Davi, sem contar que essas histórias aconteceram no período governado por seu antecessor, o Rei Saul, seria no mínimo esvaziar dois personagens tão ricos, que virão a se enfrentar por anos a fio. Toda essa introdução, na verdade, é para chegar a uma pergunta a mim muito significativa: Em sua adaptação você pretende trabalhar também em cima dessa fase do personagem ou começar já falando do Davi adulto, em suas rivalidades com Saul? Se for essa a sua intenção, o que acha de voltar um pouquinho no tempo e trabalhar alguns capítulos em cima da história do jovem Davi? Ousaria até mesmo a sugerir o nome de um jovem ator que, na minha opinião seria perfeito para viver o personagem ainda nesta fase: o ator João Vithor Oliveira, que viveu o Rafinha de “Chamas da Vida”. Acho que além de talentosíssimo, possui o tipo físico perfeito para o personagem - não é jabá, eu não o conheço! rss. Me perdoe, Vivian, por tanta audácia, mas não pude resistir diante da oportunidade oferecida pelo “Melão” e, como já disse, por se tratar de uma história que tanto me fascina. Aliás, já que é moda na Record que os títulos dos programas sejam escolhidos por terceiros vai aí mais uma sugestão: por que não chamá-la de “A Estrela de Davi” ao invés de “A História de Davi”? No mínimo soaria mais poético. Não acha?

E os salmos compostos por Davi? Será que teremos a primeira minissérie da Record com um viés musical? (Vicente)

Vivian - Você tem toda razão, Vicente. Não poderia contar a história deste personagem maravilhoso sem mostrar Davi quando era jovem. Fiquei impressionada como você conhece bem a história deste grande rei. Será uma minissérie mais longa do que foi Ester. Terei tempo para abordar as diversas fases pelas quais ele passou. Gostei da sugestão do ator João Vithor, mas infelizmente, ele está na Globo. Também adorei o título “A Estrela de Davi”, mas este nome já foi registrado por outra pessoa. Não poderei usá-lo. E com certeza vou usar os salmos no decorrer de toda a minissérie. Davi é um personagem fascinante e complexo. Pretendo mostrar todas as facetas deste guerreiro sanguinário, que ao mesmo tempo era poeta, músico e foi chamado como o homem segundo o coração de Deus. Será um desafio ainda maior, mas estou bastante animada. Espero que goste da adaptação.

Vivian, querida, obrigado pela belíssima entrevista e mais sucesso ainda em sua carreira. Saiba que, além de um amigo, você tem um grande fã. E obrigado aos leitores pela luxuosa colaboração.




terça-feira, 13 de abril de 2010

Melão Express - Rapidinhas, mas saborosas – Ed 6:


MÊS DE ESTREIAS:

  • Sim, o ano “global” começa em abril. Dentre as inúmeras estréias e reestréias da TV Globo, destaco as séries “Separação” e “A vida alheia”. Esta última trouxe um autor Miguel Falabella diferente de suas demais obras televisivas. Longe da estética kitsch e do humor escrachado, a série aborda o cotidiano de uma revista de celebridades e tudo é abordado de maneira irônica, crítica, sarcástica. Há humor, mas não aquele humor fácil tão presente na programação atual. Claudia Jimenez chegou prometendo um grande papel, mas todo o elenco esteve muito bem. Ótima atração, que preza pelo espectador com mais de dois neurônios.

Thiago Prado Neri / TV Globo / Divulgação



  • “Separação” apresenta um tipo de humor bem parecido com "Os normais" (comparação inevitável com o mega-sucesso da dupla Young/Machado), mas os personagens parecem ter mais consistência. Enquanto "Os normais", embora fosse ótimo, ficava só no terreno do humor e na busca por piadas (inteligentes ou físicas), "Separação" parece que vai mais fundo. Enquanto em “Os normais”, os protagonistas funcionavam como uma metonímia de vários casais e, por isso mesmo, com características muito comuns a todos, “Separação” parece lançar um olhar mais apurado e particular àquele universo do casal em crise. Tem um pezinho no drama e as piadas fazem mais sentido dentro da história. Debora Bloch está super à vontade, Brichta, muito bem, tem a chance de mostrar o ótimo ator qeue é, sem aquele ar abestalhado de trabalhos anteriores. Além de ótimos coadjuvantes. Sucesso!


TV Globo / Divulgação



  • Também estreou “Escrito nas estrelas”, de Elisabeth Jhin, nova novela das seis. Produção muitíssimo bem cuidada, com ótimas sequências de ação, equilibrando as cenas e apresentando muito bem os personagens, fugindo ao máximo do inevitável didatismo. A novela parece vir com força e com tudo pra conquistar o espectador médio e frustrar os mais exigentes. Texto simples, personagens idem. Trama folhetinesca, mas totalmente adequada a atualidade, mesclando o romance tradicional com temas modernos e atuais. Já de cara destaco o trabalho de Natália Dill (foto), ótima em cena, super diferente de seus dois papéis anteriores e se consolidando com uma das melhores promessas da nova geração. Sua heroína Viviane dominou a cena e a atriz soube equilibrar vigor e graça na medida certa. Jayme Matarazzo também deu verdade ao personagem, sobretudo com o olhar. De cara, já deu vontade de torcer pelo casal. Os coadjuvantes que apareceram também estiveram muito bem. Enfim, uma receita de bolo que parece que vai funcionar.


  • Ainda no quesito “estreias”, parabenizo a Leda Nagle e toda a equipe do "Sem Censura", da TV Brasil, pela estréia da nova temporada. Na verdade, a atração parece ter dado um “up” em sua qualidade técnica e tem um novo e bonito cenário. O formato do programa continua o mesmo. Graças a Deus! Se “interatividade” parece ser a ordem permanente do dia, o “Sem Censura” já faz isso há quase duas décadas com a mesma competência. Só é uma pena que o programa tenha perdido meia hora de sua duração diária, mas o importante é que ele permanece com fôlego para muitos e muitos anos.

 ENQUANTO ISSO, NA TV DA MINHA CASA

Faz o maior sucesso a reprise de “Ti Ti Ti”, que ganhei de meu grande amigo Ronaly. Estou revendo a novela que me conquistou em 1985 quando tinha apenas 8 anos, e comprovando a impressão que tive na época. Excelente. Há uma teoria de que elegemos como favoritas as novelas vistas na infância por ainda não possuirmos muito senso crítico, o que torna tudo mais romântico e idealizado. Mas, sinceramente, “Ti Ti Ti”, a exemplo de “Tieta”, está me provando o contrário. O embate entre os eternos inimigos Ari/Victor Valentin e André/ Jacques Leclair continua delicioso. Atmosfera chique, texto primoroso de Cassiano Gabus Mendes (quantas tiradas ótimas sem o menor resquício de apelação), ótimos atores em cena e personagens que vão além do arquétipo. Saudades do tempo em que os personagens cômicos de novela não pareciam imbecis. E que elenco: Reginaldo Faria, Luiz Gustavo (em estado de graça), Marieta Severo, Malu Mader, Cassio Gabus Mendes, Aracy Balabanian, enfim... fantáticos. Saudades de Paulo Castelli e Miriam Rios, sempre com uma ótima química. Tania Alves, maravilhosa e, sobretudo, muitas saudades de Sandra Brea. Belíssima e talentosa! Assisto a um capítulo e não consigo me conter. Quero logo assistir ao seguinte. Como faz falta um bom gancho em novelas.. 

Enfim, estou esquentando os tamborins para o aguardadíssimo remake de Maria Adelaide Amaral sem nenhuma ilusão de que será uma cópia fiel do original. E seria um erro se assim o fosse. Maria Adelaide já provou em “Anjo mau” que entende como poucos o universo de Cassiano e sabe atualizar uma trama sem que ela perca sua essência. Promete!

Também ganhei de meu amigo Ivan Gomes ótimos compactos de “O sexo dos anjos” e “Final feliz”, da maravilhosa Ivani Ribeiro. Também me deliciando, mas deixo pra falar sobre elas em outra edição.
  

 DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS 


  • Que a programação da TV aberta aos domingos é um horror, isso todo mundo já sabe. Uma enxurrada de programas de auditório apelativos, com atrações de baixíssimo nível e qualidade mais do que duvidosa. Tudo é nivelado por baixo. Tenho pena de quem não tem TV por assinatura ou algo melhor para se fazer na rua. Enfim, mas o que me surpreendeu foi que, dia desses, durante uma infeliz zapeada, me surpreendi com mulheres sensualíssimas ensinando e praticando “pole dance” no inicio da tarde no programa de Ana Hickmann. Até aí, nada demais. Mas há dois anos atrás, não foi exatamente a tal dança que causou a maior polêmica com a personagem de Flávia Alessandra em “Duas Caras” chegando, inclusive, a ser proibida na novela? Sou radicalmente contra a qualquer tipo de proibição, mas gostaria de entender essa lógica. Em plena tarde de domingo com programas de classificação livre pode e numa novela das nove não pode? Como assim? Se não for perseguição às novelas, não sei o que pode ser...

NOVO GUIA DE NOVELAS:


Por fim, fica uma dica para quem gosta do gênero. O livro Guia Ilustrado TV Globo – Novelas e minisséries”, lançado pela Zahar, que faz parte do projeto Memória Globo em comemoração pelos 45 anos da emissora. Para noveleiros inveterados, nenhuma novidade. A bíblia da teledramaturgia e guia de consulta obrigatório continua sendo o site do Nilson Xavier (http://www.teledramaturgia.com.br/). Mas o livro não deixa de ser uma boa pedida para se ter em casa e sempre à mão, pois traz o resumo de TODAS as novelas e minisséries produzidas pela emissora até hoje, bem como mais de 600 fotos. Precisamos de mais e mais livros sobre o gênero que mais faz sucesso no país há quase 50 anos e faz parte da nossa cultura assim como Hollywood faz parte da cultura do povo norte-americano. Enfim, a novela parece começar a ser valorizada. Que venham outras publicações.

Abração a todos e até mais!!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A catarse


Do grego "kátharsis", significa purificação, purgação. Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. Em qualquer texto dramático, a catarse é essencial para promover a torcida e a identificação do público com os personagens.

Bruno (Thiago Lacerda) e Helena (Taís Araújo): personagens de "Viver a Vida"


Pensando nisso e me colocando no ponto de vista de espectador que assiste a novelas desde que me entendo por gente, tentei compreender e fazer alguma relação com o que falta em “Viver a Vida”, atual novela das oito global. Canso de ouvir comentários de que a novela não tem história, não tem trama alguma. Discordo. A novela tem tramas, sim. E são ótimas, cheias de ingredientes para um novelão: gêmeos que disputam mocinha, que fica tetraplégica; pai e filho que, sem saber, amam a mesma mulher... sem contar que tem personagens clássicos: mãe dominadora, mãe leoa, garota rica que vai viver na favela em nome do amor, mulherengos, esposas tradicionais tentadas a trair, enfim... em termos de sinopse, seria uma novela perfeita. E os personagens, ao contrário de muitas novelas atuais, não são meros arquétipos. Eles são riquíssimos e possuem uma psicologia muitíssimo bem definida. Esse, ao meu ver, é o ponto forte da obra de Manoel Carlos: os personagens têm vida, são de carne e osso, parecidos com qualquer um de nós. São eles que, geralmente, movem a trama, e não o contrário. Ou seja, idéias e bons personagens estão ali, mas a questão é que as expectativas são criadas e acabam sendo frustradas depois. Todo mundo é muito cool, muito civilizado. Tirando aquelas brigas chatas dos gêmeos vividos por Mateus Solano e as alfinetadas da Izabel (Adriana Birolli), aquela irmã mala que fala a verdade doa a quem doer, não há os chamados bas-fonds...e é disso que o público gosta. O BBB 10 foi o sucesso que foi porque tinha barracos diariamente.

Por exemplo, o caso da Renata (Bárbara Paz). Onde já se viu uma mulher que sofre de anorexia alcóolica com sérios problemas psicológicos aceitar numa boa que o namorado por quem é dependente afetivamente e completamente apaixonada, a abandone para ficar com uma tetraplégica? Por que ela não invadiu a casa de Luciana (Aline Moraes) para fazer o maior escândalo? Ao contrário: aceitou numa boa e até foi cumprimentar a “amiga” no dia do aniversário, contrariando a todas as expectativas criadas nos capítulos anteriores através de cenas que davam indícios de que essa revolta aconteceria a qualquer momento. Ou seja, pulou-se a parte do drama, não houve catarse, a personagem não se “purgou”. Nem Madre Teresa seria capaz de tamanha abnegação. Renata, quem diria, é um exemplo de maturidade e equilíbrio.

Outro exemplo: o encontro de Bruno (Thiago Lacerda) com o pai, Marcos (José Mayer). Era pra ser algo cheio de emoção, ressentimento, lágrimas e o que vimos foi um encontro frio, até meio constrangedor. E o que dizer dos envolvimentos amorosos de Betina e Carlos (Letícia Spiller e Carlos Casagrande) e Malu e Gustavo (Camila Morgado e Marcelo Airoldi)? Fazer um suspense e atrasar a ação faz parte do show. Mas não realizar nunca essa ação é tão frustrante quanto um coito interrompido.

Ou seja, as boas tramas existem. O que falta é realizá-las a contento. Em nenhum momento ouvi nas ruas alguém dizer: "hoje eu não posso perder a novela porque vai acontecer tal coisa". É isso que faz uma novela andar. Cadê a catarse que faz o Brasil parar? Enfim, Manoel Carlos não precisa provar nada pra ninguém. É um gênio e ainda tem estrada pra percorrer. Espero, sinceramente, que nessa reta final, Maneco empreste a “Viver a Vida” ao menos um pouquinho da emoção e de todas as viradas catárticas que conseguiu dar à fantástica “Por amor”, só pra citar uma de suas maravilhosas novelas.

Aprofundando o tema, continuei a pensar em algumas novelas antológicas e todas elas tinham esse momento de catarse, em que o público entra em comunhão com o personagem e se delicia com sua grande virada, com a expurgação de todos os seus dramas: o chamado acerto de contas. Elegi meus “momentos-catarse” favoritos:


- Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga – Raquel (Regina Duarte), depois de tanto sofrer nas mãos da filha Maria de Fátima (Glória Pires), que vende sua casa, o que a obrigou a começar do zero vendendo sanduiche na praia e ainda por cima fingia que não a conhecia e armou para que ela se separasse do homem que amava, Ivan (Antonio Fagundes), teve seu grande momento, invadindo o atelier onde a filha experimentava seu vestido de noiva e, aos gritos de “odeio você” rasgou toda a roupa da megera. A cena é forte e causa impacto até hoje. Mas foi o momento que todos esperavam, em que a heroína deixou de ser boazinha e expurgou seu sofrimento.

- Ti Ti Ti (1985), de Cassiano Gabus Mendes – Ariclenes (Luiz Gustavo), um verdadeiro perdedor na vida, após sofrer com o triunfo do arqui-inimigo André (Reginaldo Faria), que se tornou o famoso costureiro Jacques L’eclair, dá a volta por cima e retorna em grande estilo como Victor Valentim, costureiro espanhol que rouba todo o sucesso do rival.

- Água Viva (1980) e Celebridade (2003), ambas de Gilberto Braga – Após sofrerem traições por parte das vilãs que se faziam de amigas, Lígia e Maria Clara (Betty Faria e Malu Mader, respectivamente) dão uma merecida surra em suas rivais, Selma e Laura (Tamara Taxman e Claudia Abreu). Gilberto, curiosamente, usou o mesmo cenário para os dois embates: o banheiro de uma casa de shows.

- A próxima vítima (1995), de Sílvio de Abreu. Essa era uma catarse por capítulo, mas pra citar uma, a cena em que Marcelo (José wilker) descobre a infidelidade de Isabela (Claudia Ohana) e faz um corte em seu rosto com uma faca.

- O astro (1977), de Janete Clair. Cansado do preconceito e da ambição do pai rico Salomão Ayala (Dionísio Azevedo), Marcio (Tony Ramos) sai de casa sem nem mesmo levar a roupa do corpo, completamente nu.

Isso só pra citar alguns. E vocês, o que acham? Qual seu “momento-catarse” favorito?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tide, só tinha de ser com você!!! - Entrevista especial com ALCIDES NOGUEIRA!!!


Sim, meus queridos, é isso mesmo! Tide, ou melhor, Alcides Nogueira, também prefere melão!!! Hoje é o dia que eu deixo toda a modéstia e a humildade de lado pra dizer que temos um post sensacional! Tinha mesmo que inaugurar essa nova fase com chave de ouro. Pensei numa big entrevista. E logo me veio à cabeça esse entrevistado tão especial. Na verdade, TINHA que ser com ele! Não só pelo grande escritor que é, mas por ser um ser humano ímpar, de uma delicadeza rara, de uma gentileza cativante e de uma simpatia poucas vezes vistas para alguém tão importante. Agora, mais do que nunca, é o MUSO OFICIAL desde humilde melão!!! (rs...) Tide costuma chamar de “príncipes” as pessoas que gosta. Por isso, me sinto muito à vontade pra dizer que ele é um rei e eu, um súdito declarado. Este melão vai ser sempre devedor a essa pessoa pela belíssima entrevista. Quem ler até o fim vai conhecer Alcides Nogueira em sua essência: pândego, delicado, generoso, mas também muito franco e honesto. De sua infância em Botucatu, passando por seus êxitos em teatro e Tv, pincelando por sua vida pessoal e dando uma prévia de seu próximo trabalho, eis Alcides Nogueira de cabo a rabo. O melão e seus leitores agradecem emocionados! Sem mais delongas, respeitável público, eis Alcides Nogueira falando COM EXCLUSIVIDADE para todos nós!

EU PREFIRO MELÃO - Em sua biografia escrita por Tuna Dwek, “Alma de Cetim”, lançada pela Imprensa Oficial, você narra de forma comovente e marcante suas memórias e experiências da infância, bem como as raízes de sua cidade natal, Botucatu. De que forma essas vivências contribuíram para a formação do escritor que você é hoje? Já transpôs alguma experiência vivida nessa época para alguma de suas obras?

 ALCIDES - Eu sempre digo que a Tuna Dwek foi extremamente sensível quando transpôs nossas conversas para o papel. Eu vivi e ela escreveu. Botucatu tem um papel muito importante em minha vida. Minha família está naquela cidade desde que ela era uma vila (parte de uma fazenda de jesuítas – traduzindo: final do século XVII). E, se for calcular, eu já morei mais tempo fora do que lá. Estou com 60 anos e saí de Botucatu para estudar Direito em São Paulo (com 18 anos). Mas o que foi vivido por meus ancestrais, a minha infância, a minha adolescência... tudo ficou registrado de forma indelével em meu coração. Não acho que ela seja a melhor cidade do mundo, e dificilmente voltaria a morar lá. Mas aquela serra demarca meu primeiro espaço físico no mundo. Isso não é pouco. Sem dúvida, muito do que vivi lá foi transposto para a minha obra – tanto teatral quanto televisiva. Mesmo em novelas de outros autores (onde eu fui co-autor), como no caso das cinco em que estive com Sílvio de Abreu, há referências marcantes. Dona Armênia (de “Rainha da Sucata” e “Deus nos Acuda”, vivia se referindo a “Baitatatu”, e à goibada-cascão da dona Calica (que realmente existe, é uma grande doceira, e foi vizinha de minha família). Em “O Amor está no Ar” coloquei muito das cidades do interior de São Paulo (diferentes das de todo o Brasil). E em “Ciranda de Pedra” eu citei amigos e pessoas de lá. O mais importante foi o legado que recebi de minha família, e isso poderia ter acontecido em qualquer outra cidade. Tive a sorte de nascer em uma casa onde sempre foi privilegiada a cultura.

EU PREFIRO MELÃO - O que diferencia o Alcides dramaturgo do Alcides autor de televisão? E o que um acrescenta ao outro?

ALCIDES- As diferenças são imensas. No teatro, eu solto meus bichos sem pudor algum. A cena suporta isso. Mergulho fundo nas minhas dúvidas e esmiúço a minha visão de mundo. Tanto que meu teatro é bastante visceral, cheio de referências, fruto da pós-pós-pós modernidade, carnavalizado e enraizado na intertextualidade. Na televisão, sou um autor mais realista, ou totalmente realista, próximo ao naturalismo, buscando retratar o dia-a-dia, sem grandes vôos poéticos (de vez em quando eles acontecem, mas são, basicamente, marca registrada de meu teatro). Gosto muito dos dois veículos, mas tive que aprender a conviver com as diferenças entre eles. Antigamente eu dizia que gostava mais de teatro. Bobagem. A televisão também tem sua magia. Resta descobrir qual é e como usá-la.

EU PREFIRO MELÃO - De suas três novelas-solo (“De quina pra lua”, “O amor está no ar” e “Ciranda de Pedra”) qual a sua favorita e que aprendizado você adquiriu com cada uma delas?

              Pela ordem: "De quina pra lua" (1985), "O amor está no ar" (1997) e "Ciranda de Pedra" (2008)

ALCIDES - A melhor é, sem dúvida, “Ciranda de Pedra”. É uma obra madura. Apesar de ter sido, muitas vezes apedrejado (principalmente nos blogs da internet), fui MUITO fiel ao livro da Lygia. A prova foi o apoio que ela me deu o tempo todo. O problema de remakes e adaptações é, sempre, a memória afetiva que o telespectador guarda da primeira obra. Muitas vezes ele nem sabe do que e porque gostou tanto da versão anterior, e já rejeita a nova. No caso de “Ciranda”, embora eu não tenha visto a adaptação do Teixeira Filho, de 1981, mas somente lido os capítulos (ainda estava morando na Suíça, e cheguei ao Brasil no final desse ano, para lançar no teatro “Lua de Cetim”), eu nem chamo de remake. Foram adaptações completamente diversas uma da outra. O Teixeira, com todo o talento dele, optou por uma visão mais horizontal, focando nas diferenças sociais entre os universos expostos – Vila Mariana e Jardim Europa; eu fiquei com a estrutura lygeana, vertical, psicológica, contando a história a partir do desagregamento familiar provocado pelo casamento infeliz de Laura e Natércio, o amor quase impossível de Daniel e Laura, e as vidinhas das três meninas: Otávia, Bruna e Virgínia. Fui muito atacado por Ana Paula Arósio fazer o papel de Laura. Disseram que ela era muito jovem etc... Isso é bobagem. Estrela não tem idade! A própria Ana Paula já tinha feito, em “Um Só Coração” (minissérie assinada por Maria Adelaide Amaral e por mim), a Yolanda Penteado, desde a saída da adolescência até quase 60 anos. E ninguém reclamou!!!!! Choveram elogios. A mesma coisa aconteceu com Lucélia Santos, que fez Virgínia na adaptação do Teixeira. Lucélia é das maiores atrizes deste país e, sem medo de exageros... do mundo! Digo isso com convicção, pois ela está fazendo uma peça minha – “As Traças da Paixão”. Lucélia é o máximo! Tem talento que não acaba mais, fora o carisma. Mas ninguém venha me dizer que ela tinha a idade de Virgínia, de uma adolescente de 13/14 anos, em 1981. Mais: ao mesmo tempo em que ela fazia essa menina na telinha, na telona encarnava Luz Del Fuego, com a MESMA verdade! Volto a repetir: isso não tem a menor importância!!!! Estrelas de verdade fazem qualquer papel, como Ana Paula e como Lucélia. Acontece que os fãs de Lucélia são xiitas. Eu já disse isso a ela, e também ao Aladim Miguel, presidente do fã-clube da nossa querida atriz... Na época, recebi muitas muitas cartas para que escalasse Lucélia de novo, ou como Virgínia (!!!!!!) ou como Laura. Tenho certeza de que nem a própria Lucélia gostaria disso. Voltando à novela em si: o livro de Lygia Fagundes Telles é denso, duro, trata de muitos assuntos polêmicos, como doença mental, eutanásia, suicídio, impotência sexual masculina, lesbianismo... Como colocar tudo isso às 18 horas, ainda mais com a classificação etária? O Teixeira deixou tudo de lado, a não ser a doença de Laura e a impotência de Conrado (que, na adaptação dele, tinha outro nome). Eu também enfoquei a doença de Laura e transformei a impotência sexual de Conrado (que hoje já não é mais um problema insolúvel) em impotência afetiva, emocional, que poderia dar muito mais estofo ao personagem. E, com cuidado, na base da sutileza, usando metáforas, acabei colocando a eutanásia praticada por Daniel, o suicídio dele, o lesbianismo de Letícia etc... Sei que muita gente não entendeu muito bem o final da novela... mas o jornal O Estado de São Paulo publicou que tinha sido o último capítulo mais ousado de uma novela das 18 horas. Adorei!!!!! Não posso deixar de mencionar os autores maravilhosos que estavam comigo (Mario Teixeira, Lúcio Manfredi e Cristiane Dantas) e a direção-geral de Carlos Araújo, um cúmplice, um artista superlativo, um grande companheiro de trabalho. E, em momento algum (que isso fique bem claro) fui pressionado pela Rede Globo. Mesmo com a novela não atingindo a audiência esperada. A qualidade do produto pesou mais. “De Quina pra Lua” serviu para mostrar que o apressado come cru. Eu não tinha bagagem suficiente para segurar aquela novela, ainda mais porque a sinopse do Benedito Ruy Barbosa era mínima, sem aprofundar nada... e não pintou a tão necessária dobradinha com a direção (a não ser com Mario Marcio Bandarra, amigão e um diretor maravilhoso). O elenco eu adorava. Só que eu escrevia a novela sozinho. Isso mesmo, sozinho! Sem computador (não havia na época), sem colaborador, sem pesquisador, sem nada... Era a época da Casa de Criação Janete Clair. Eu tinha um leitor, que acompanhava os capítulos e com quem trocava figurinhas. Para minha sorte, esse leitor era o Sergio Marques que, depois, veio a se tornar um ótimo autor. O Sergio foi meu porto seguro durante esse trabalho complicadíssimo. Fora o estresse provocado pelo Benedito, que tendo entregado a sinopse a mim, continuava me telefonando todo dia, para reclamar disso e daquilo. Quando cheguei ao capítulo 60, não tive dúvida: fui para o Rio, procurei o Dias Gomes e disse que estava entregando a novela. Houve uma reunião difícil, complicada... Eu estava rastejando, a ponto de nunca mais sair do buraco. Aí, o grande amigo Walter Negrão entrou na jogada. Não para escrever, mas para ficar comigo, com toda a sua experiência. E o Benedito parou de me perturbar. Em tempo: tenho enorme respeito pelo Benê, mas ele estava atravessando uma péssima fase, e não deveria ter feito isso comigo. Acho que ele nem se lembra mais dessa história, e é bom... MAS EU ME LEMBRAREI ATÉ O FINAL DOS MEUS DIAS!!!! O Benedito é um autor tão importante, que não precisa disso em seu currículo. Linda foi a postura do elenco, que ficou o tempo todo comigo. Adoro todos eles!!!!! “O Amor está no Ar” poderia ter sido uma grande novela. A trama era bacana, o Silvio de Abreu era o meu supervisor... Mas houve um miscasting horrendo! Ao lado de atores e atrizes que “vestiam” com perfeição os personagens, como Rodrigo Santoro, Natália Lage, Betty Lago, Isabela Garcia, Caco Ciocler, Luiz Mello, Thierry Figueira, Tuca Andrada, Natália do Vale, Georgiana Goes e tantos outros e outras... havia nomes que não tinham nada a ver... e que foram impostos (impostos mesmo) sem que eu ou o Silvio pudéssemos fazer nada. Fora isso, houve um desentendimento sério entre Wolf Maya (diretor do núcleo) e Ignácio Coqueiro (diretor-geral), e a coisa respingou na novela. Eu adoro os dois, mas fiquei no meio do tiroteio!!!! O Ignácio acabou mostrando todo o seu talento em “Poder Paralelo”... e o Wolf não precisa provar nada. Mas, naquele momento, eu tinha de ser preservado! A minha sorte foi estar com Bosco Brasil e Filipe Miguez, grandes e talentosos amigos e companheiros... Aliás, até hoje não entendo porque o Filipe não fez uma novela. Ele é o máximo!!!! De tudo isso, aprendi que não se pode dar o passo maior que a perna, e que todo autor deveria fazer o curso do Itamaraty para administrar tantos problemas. Mas não me arrependo de nada!

EU PREFIRO MELÃO - Você costuma dizer que aprendeu o “be-a-bá” da teledramaturgia com o Walther Negrão e se “pós-graduou” com o Sílvio de Abreu, mas também colaborou com outros autores como Lauro César Muniz e Gilberto Braga. Qual é o grande desafio do trabalho de colaboração? O que você aprendeu com eles no que diz respeito à rotina e divisão do trabalho que aplica no trato com seus próprios colaboradores?

Trabalhos de Alcides como colaborador / co-autor: "Livre para voar", de Walther Negrão, sua estreia em 1984; "O salvador da pátria" (1988), de Lauro César Muniz; e "A próxima vítima" (1995), de Sílvio de Abreu

ALCIDES - Como contei, já escrevi uma novela sozinho. Loucura total!!!! Não desejo isso a ninguém. Os colaboradores e co-autores são fundamentais. Eles alimentam a novela, sugerindo tramas, descobrindo caminhos, criando características fortes para os personagens. Sem dúvida, o rumo da história não pode sair do controle do autor-titular. Mas o sucesso da obra está nas mãos dessa equipe toda. Há autor que nem cita quem está criando com ele. É um absurdo, uma mentira! Fico muito bravo com quem “esconde” os nomes de co-autores e colaboradores. Para que um ego tão inchado? Felizmente trabalhei com autores do bem... pessoas generosas, que me ensinaram muito, como Negrão, Silvio, Gilberto e Lauro... São todos grandes autores e sempre colocaram o know-kow à diposição dos que estavam na equipe. Claro que aproveitei para aprender tudo o que era possível. O processo de trabalho em equipe é muito complexo. Há quem prefira equipes pequenas e enxutas, como Silvio, Negrão e Lauro... (eu me incluo nessa categoria), e outros que preferem equipes maiores (como Gilberto e Linhares). Eu brinco com eles dizendo que se trata de uma administração de condomínio. O grande desafio que cabe ao autor-titular é manter a sua marca e, ao mesmo tempo, absorver a colaboração dos outros membros do grupo. Nem sempre é fácil. Há também a questão da administração da própria novela, que cabe ao titular. É muito desgastante, porque isso “rouba” o tempo da criação: é preciso falar com a empresa, com a direção, com mídia (geralmente perversa e fofoqueira), com atores, com a produção (e suas diversas equipes)... A única forma de sobrevivência é delegar funções. De todos os autores com quem trabalhei, Silvio e Gilberto são os mais organizados. O Lauro possui uma maneira muito própria de criar, e é necessário um tempo para se acostumar com ela... mas ele é MUITO generoso. Com Negrão, é pura alegria! No computador ou fora dele, o Negrão é aquela pessoa que está sempre de bem com a vida. Foi bom você tocar nesse assunto. Digo, por experiência própria, que alguém só se torna um bom autor passando por todas essas fases. Novela, hoje, é um produto MUITO complexo, no qual foi investido muito dinheiro, e o retorno, em termos de audiência, é uma necessidade. Mas o titular que não enxergar a novela como resultado do esforço de toda uma equipe está equivocado... profundamente equivocado.

EU PREFIRO MELÃO - “Força de um desejo” (cuja sinopse é de sua autoria), que escreveu em parceria com Gilberto Braga, foi uma novela primorosa e, considerada por muitos apreciadores do gênero como uma das melhores novelas do horário das seis de todos os tempos. Como foi criar uma novela tão boa mantendo o estilo de dois autores tão especiais como você e Gilberto?

ALCIDES - Não vou dar uma de falso modesto: adoro “Força de um Desejo” e concordo que foi uma novela primorosa. Tenho certeza de que poderia ter sido exibida (naquela época, 1999/2000) no horário das 20 horas. A história da sinopse já é uma novela em si. Eu a escrevi, tomando como plot um livro muito pouco conhecido do Visconde de Taunay – “A Mocidade de Trajano” – e adaptei da maneira mais livre possível. Entreguei a sinopse ao Paulo Ubiratan. Ele morreu (infelizmente, pois faz um falta imensa) e a sinopse sumiu. Tempos depois, o Marcos Paulo achou a própria e mandou para a Marluce Dias da Silva (que comandava a emissora na época). Eu estava com o Silvio e o Bosco Brasil em “Torre de Babel”. Para resumir a ópera, a sinopse foi parar nas mãos do Gilberto, que gostou bastante dela (apesar de achar que, de Taunay, não tinha nada kkkkkk) e propôs um segundo tratamento, a quatro mãos. Foi assim que nasceu a novela, e não se pode deixar de lado a importância de Sergio Marques, que ajudou muito na nova versão da história. Enquanto eu terminava “Torre de Babel”, a minha querida Leonor Bassères (uma das minhas amigas mais queridas lá na Globo), assumiu meu posto na escrita. Deixou sua marca indelével, junto com Ângela Carneiro, Lilian Garcia, Eliane Garcia, Márcia Prates e Sergio Marques. Uma equipe dos sonhos. Sem dúvida isso colaborou muito para que a novela tenha sido tão bonita. Além de estar no núcleo de Marcos Paulo, com direção-geral de Mauro Mendonça Filho. A direção de arte foi um primor, assim como cenários, figurinos, iluminação, tudo... E a sintonia que sempre houve entre Gilberto e eu desta vez foi total. Como somos dois vampiros, trocávamos figurinhas às quatro horas da manhã (rsrsrsrs). Usando o meu bordão, Gilberto é um príncipe! E um mestre! Apesar de imensa (foi uma das novelas mais longas da Globo), a equipe toda criou sempre num clima bom, sem pressão, sem brigas... E com aquele elenco – um dream team – só podia dar certo! Tenho muito orgulho da “Força”, principalmente por ter estado com todas essas pessoas tão especiais!


EU PREFIRO MELÃO - Momento “Caras” (risos): como é seu dia-a-dia quando não está escrevendo? Sei que você é um grande apreciador de cinema, por exemplo, e que ama viajar. O que o “Tide” faz nos momentos de lazer?

ALCIDES - Já fui muito baladeiro. Ia pra rua de segunda a segunda. Vejam só: acabei caseiro. Saio pouco, muito pouco. Gosto de ir tomar café de madrugada, com amigos (a Tuna Dwek é minha parceira constante – sorvete e café), vou ao cinema e ao teatro... Vou a livrarias, galerias de arte e lojas de discos (ADORO música e tenho uma coleção bem bacana)... Leio, leio, leio... Vejo muito DVD... Às vezes, dois filmes por noite... até o sol raiar. E gosto de viajar. Tenho minhas cidades preferidas, como Paris (principalmente), Londres, Madrid, Lisboa... e procuro sempre conhecer um lugar novo (no ano passado fui parar na Cracóvia e em Auschwitz!!! Em São Paulo, curto um jantarzinho (afinal, a culinária maravilhosa desta cidade é uma tentação)... E passeio pela cidade: centro velho, Jardins, Higienópolis... Sou consumista: adoro comprar desde roupa até bobagens que nunca irei usar, mas que são bonitas... Mas o que me dá maior prazer, fora as viagens, é andar de carro pela cidade, de madrugada, sem destino, ouvindo música. Principalmente rock e electro... Gosto imensamente de São Paulo! Apesar de todos os defeitos e problemas de uma megalópolis desvairada, eu me sinto acolhido por esta cidade.

EU PREFIRO MELÃO - Você já pensou em adaptar alguma obra teatral sua para a TV?

ALCIDES - Não. Como disse lá no comecinho, teatro é teatro e tv é tv. Eu mutilaria uma obra teatral e não faria um bom programa para a telinha. A única pessoa que conheci que fazia isso brilhantemente foi o Walter Durst. Mas, claro, sempre acabo usando um personagem ou uma situação de minhas peças em novelas. Comecei a escrever primeiro para o teatro e depois para a televisão. Aconteceu algo muito bom: a linguagem de um veículo ajudou a do outro. Hoje sei que meu teatro ganhou agilidade por causa da televisão e esta ganhou maior estofo na criação de personagens e cenas por causa do teatro.

EU PREFIRO MELÃO - Suas minisséries em parceria com Maria Adelaide Amaral (“Um só coração” e “JK”) primam pela reconstituição de época perfeita e rico panorama histórico de nosso país. Como é a responsabilidade de contar histórias de personagens reais? Já pensou em escrever alguma minissérie que fuja a essas características em que os personagens sejam totalmente fictícios?

ALCIDES - Sempre digo e nunca vou me cansar de repetir: trabalhar com Maria Adelaide é um sonho! E não é tão difícil entender isso: temos uma amizade que começa lá atrás, na Editora Abril, uma história teatral, muitoooooooooooooos amigos em comum... e, quase sempre, gostamos dos mesmos filmes, das mesmas peças, dos mesmos livros.... Freqüentamos o mesmo universo aqui em São Paulo. É muita afinidade! Além de sermos (os dois) crias do Silvio de Abreu. Com ele escrevemos “Próxima Vítima “ e “Deus nos Acuda”, e ele foi supervisor da Maria Adelaide e meu. O Trio Parada Dura! Voltando às minisséries históricas: Maria Adelaide é uma super historiadora. Além do que conhece, ela pesquisa a fundo. Isso dá gosto, puxa a gente, motiva... Nas duas minisséries, os temas eram complexos: em “Um Só Coração”, a história de São Paulo, contada pelo ponto de vista cultural, da Semana de Arte Moderna (1922) até o IV Centenário da cidade (1954), tudo focado no casal Yolanda Penteado e Ciccilo Matarazzo ... e, em “JK”, a trajetória do presidente, de seu nascimento em Diamantina (1902) até a sua morte, em um acidente de carro na Dutra (1976), em plena Ditadura Militar. É MUITO complicado contar a vida de pessoas reais, mesmo quando deixamos claro que, ainda que baseada em fatos reais, a obra é ficcional. Estamos tratando de pessoas que existiram (muitas foram ícones)... e isso exige uma responsabilidade ética, um rigor histórico muito grande. Mas toda história é uma boa história. E foi assim que em “Um Só Coração”, com Lúcio Manfredi e Rodrigo Arantes do Amaral... e em “JK”, com Geraldo Carneiro, Letícia Mey e Rodrigo Arantes do Amaral, conseguimos retratar dois momentos tão importantes da vida brasileira. Mais uma vez contamos com preciosos pesquisadores e equipes de primeira linha para direção de arte, figurinos, cenários... Não tenho dúvida de que esses trabalhos estão entre os melhores já produzidos e exibidos pela rede Globo. Quanto a uma minissérie com personagens totalmente fictícios, ainda não pensei nisso. É uma bela idéia que você está me dando. Many thanks!

EU PREFIRO MELÃO - Você pode adiantar detalhes de seu novo projeto para a Rede Globo? O que podemos esperar dessa vez?

ALCIDES - Entreguei uma sinopse para uma novela das 18 horas. É assinada por mim e por Mario Teixeira. Afinal, nós construímos uma ótima dobradinha em “Ciranda de Pedra”. Queremos contar uma bela história de amor, folhetinesca mas moderna, ambientada no novo universo rural – principalmente o do estado de São Paulo – onde corre muiiiiiiito dinheiro, e as pessoas têm um nível de vida muito elevado. E problemas também, claro. Há muitas armações, muitas maracutaias e muito humor. Deve entrar na grade de 2011, pois as próximas produções já estão fechadas. Isso é bom. Temos mais tempo para trabalhar nas tramas. Eu e Mario fomos retirando nossas histórias dos baús e acho que chegamos a uma boa trama! A vilã é maravilhosa kkkkkk.

EU PREFIRO MELÃO - Você é noveleiro? Que novelas (não valem as suas...rs!) você mais gostou como telespectador?

ALCIDES - Antes de começar a escrever para a telinha, eu via pouquíssima coisa na televisão. Novelas, as das 22 e, de vez em quando, alguma coisa das 20 horas. Não tinha muito interesse. Mas não perdi “Escalada”, do Lauro, que considero a melhor telenovela brasileira. E “O Rebu”, muitas outras... Depois, a coisa mudou e comecei a ver tudo: as das 18, das 19, das 20, das 22, seriados etc... Hoje, não. Até porque, lendo o belo artigo do Lauro César Muniz que o blog publicou, concordo com ele: a televisão perdeu a ousadia. Por que não há mais programas como “O Casarão”, “Roque Santeiro”, “Nina”, “Malu Mulher”, “Ciranda, Cirandinha”, “Armação Ilimitada” (eu era apaixonado pela Zelda!!!!)???? Claro que há histórias que me prendem. Adorei “A Favorita”, acho que “Passione” e “Ti-Ti-Ti” vêm com tudo, gostei muito de “Paraíso Tropical”, com Bebel e Olavo arrasarando!!... CACHORRA!... Curtia bastante “Desejo Proibido” e achei ruim terem encurtado... Mas fico mais com as minisséries (“Desejo”, “Hoje é dia de Maria” – o primeiro, o segundo foi insuportável - , “Labirinto”, “Dalva e Herivelto” me comoveram) e com os seriados (“Cinquentinha” foi um achado). Juro que não sou saudosista, mas a televisão ficou careta!

EU PREFIRO MELÃO - Você considera o gênero “telenovela” como algo menor se comparado ao cinema ou teatro? Qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

ALCIDES - De maneira alguma!!! (CARA DE INDIGNADO!). Sem essa de ser menor... A telenovela, hoje, é o grande entretenimento do brasileiro, que não pode comprar livro ou disco, ir ao cinema ou teatro, porque NÃO TEM dinheiro... mesmo o país tendo melhorado bastante. Fora a questão do entretenimento, a televisão avançou na discussão de muitos temas: homossexualidade, a questão racial, a questão da mulher, prostituição, drogas, exclusão social, a questão dos portadores de deficiências... a discussão das maracutaias políticas... Por ter um feedback muito rápido, a novela consegue se ajustar ao que o telespectador busca. Isso não é uma posição passiva, não! Trata-se de assumir, de vez por todas, que a novela é SIM uma obra aberta.

EU PREFIRO MELÃO - Pra terminar, que conselho daria a um jovem roteirista que aspira a trabalhar na TV?

ALCIDES - Muitos só enxergam o glamour da profissão. Garanto que é o que menos existe. Conta é o trabalho exaustivo. A vida para quando se está escrevendo uma novela. Mas, para quem quer ir adiante, aconselho a nunca deixar de perseguir o sonho, por mais distante que ele possa parecer. E vá acumulando experiências: veja novelas, filmes, seriados, minisséries... e leia leia leia leia! Não há bagagem mais preciosa! Leia de bula de remédio a Proust... mas leia!

EU PREFIRO MELÃO - Que pergunta que não fiz que você gostaria de responder?

ALCIDES - Nenhuma. Você é inteligente, respeitoso e muito elegante. Eu é que pergunto: qual resposta você acha que eu não deveria ter dado?????????


Imagina! TODAS as respostas foram essenciais. Sem mais, termino confessando: “Alcides, quando crescer quero ser igual a você”.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Melão de cara nova! Estamos trabalhando para melhor servi-lo!!!


 É isso aí, queridos. Depois de quase 1 ano, o melão mudou de roupa. Está mais clean, com um visual mais moderno e um layout que vai proporcionar interatividade para vocês, leitores. O responsável por essa mudança é um cara jovem e hiper talentoso chamado Felipe Ribeiro. A ele, meus sinceros agradecimentos!!!

E como se dará essa interatividade? Seguinte: como podem ver, o novo banner homenageia duas novelas: “Tieta”, minha novela favorita de todos os tempos; e “A favorita”, a última grande novela cult na opinião de muitos. Mas adivinha quem vai escolher as próximas novelas homenageadas? Isso mesmo, vocês! O melão mudará de roupa de tempos em tempos e serão feitas enquetes para decidir com que roupa ele estará.

Além disso, muitas outras surpresas estão por vir também no conteúdo. Juntamente aos já tradicionais posts, agora teremos periodicamente entrevistas com pessoas da melhor qualidade desse mundinho televisivo que amamos. E as entrevistas também serão interativas. Pra começar, enviem uma pergunta que você gostaria de fazer para a autora VIVIAN DE OLIVEIRA. As melhores perguntas serão selecionadas e estarão na entrevista que ela nos dará na segunda quinzena desse mês. E só enviar as perguntas clicando nos comentários. Estou esperando.

Obrigado a todos e continuem preferindo melão. E amanhã, como estréia da nova programação, uma big surpresa. Aguardem! Beijomeclica!!!

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